Bravus Race: corrida de obstáculos
- Vanessa Freitas
- 6 de out. de 2015
- 7 min de leitura

A Bravus Race é a maior corrida de obstáculos do Brasil, e em sua última edição, no domingo passado, juntou 6 mil doidos masoquistas a fim de superar seus limites em 6km com 23 obstáculos em Barueri (SP). Já tinha ouvido falar da prova e era curiosíssima para participar, alguns amigos já tinham ido, mas até então, eu nunca tinha conseguido ir. Não sei se por falta de disponibilidade na agenda, dinheiro na época, ou pessoas tão malucas quanto eu que me motivassem a participar. Acho que foi a última opção.
A decisão de participar da Etapa Fire da Bravus Race se deu em um lugar onde os dilemas mais importantes de nossas vidas são discutidos: NO BAR. Estava em um grupo de amigas e uma delas, a Mayla, nos convidou pra participar dizendo que uma turma que ela conhecia ia se inscrever. Na hora, meio receosas, mas já empolgadas, eu e minha prima Gabi topamos nos unir com ela a esse bando de loucos (não, não to falando da torcida do Corinthians) que iria correr a prova.
À medida que o fatídico 4 de outubro foi se aproximando, a ansiedade aumentou de um jeito bem parecido com o que aconteceu comigo antes da Meia Maratona do Rio. Essa sensação de frio na barriga e de não saber o que esperar é demais. Vídeos de outras edições no Youtube, fotos que eram compartilhadas na página oficial da corrida... nada do que a gente via nas redes sociais nos deixava seguras ou, pelo menos, diminuía um pouco esse medo do desconhecido. Para ajudar, o termo de responsabilidade que os participantes devem assinar para retirar o kit da prova tem a recomendação mais indesejada que eu já li na minha vida até hoje:

Tá sussa, tá tranquilo.
Depois de ler isso, com a música "Cilada, cilada, cilada,..." do Molejo ecoando na cabeça, deu vontade de desistir. Mas, já que estávamos inscritas, não custava ir tentar. Pra morrer, basta estar vivo né? Se morrêssemos, pelo menos seria em combate. (acabei de dar 3 batidinhas na madeira)
No dia seguinte à prova, em mais uma dica-do-que-NÃO-fazer-antes-de-uma-corrida, eu e a Gabi fomos a um churrasco de outra prima nossa (a Thássia, que correu comigo esses dias também! :D), bebemos até a hora de ir embora, dormimos às 2 da manhã e... seja o que Deus quiser. Pelo menos o medo passou (por um momento) :)
Estávamos inscritas na 24ª Bateria, prevista para largar às 13:45h, o que nos permitiu acordar relativamente tarde em comparação a outras corridas, e almoçar antes. Encontramos a Mayla para o almoço, e assim que vestimos as camisetas reparamos que o símbolo atrás era parecido com o brasão da família Targaryen de Game of Thrones. O que fazia TODO o sentido, já que era a Etapa Fire da corrida. Definimos nosso lema como: "I'm not a princess, I'm a Khaleesi" e encarnamos a própria Daenerys.

O símbolo da casa Targaryen
A coincidência era tanta que até dragão a gente encontrou no shopping quando foi almoçar.

Dracarys em uma exposição do dia das crianças no Shopping Vila Olímpia, rs.
Almoçamos, encontramos o resto (na verdade, a maioria!) da equipe em Barueri, chegamos atrasados para a nossa largada (eita dificuldade para chegar no batalhão) e largamos na última bateria, a 27ª, às 14:30h. Deu tempo de tirar uma foto de nós todos limpos :D

Equipe antes da largada
Enquanto aguardávamos a largada, a Gabi reparou que não, o símbolo da camiseta não era um dragão, e sim um leão, e toda mágica da Daenerys Targaryen foi quebrada. O desenho da camiseta é EXATAMENTE o brasão dos Lannister.

A camiseta (Foto por Adam Tavares)

O brasão dos Lannisters. Droga, prefiro os Targaryen.
Antes da largada, rolou um aquecimento coletivo e já tinha um primeirinho obstáculo pra gente entrar no clima: um muro de madeira de 2 metros pra pular. Eu JÁ ME MACHUQUEI AÍ. Claro que isso ia acontecer. Tentei pular de mal jeito e acabei chutando a quina da madeira. Podia ser pior. Sempre penso assim.
E foi dada a largada. Vou falar apenas dos obstáculos mais difíceis porque o resto é tranquilo, coisa que a gente faz no dia a dia, tipo rastejar na lama embaixo de arame enfarpado, subir uma encosta de lama segurando uma corda, pular muro, nadar num riozinho, carregar um balde de pedra, pular fogueira, engatinhar em um ambiente cheio de fumaça... tudo coisa sussa né? SÓ QUE NÃO.
Corremos os primeiros metros até que veio o primeiro obstáculo: o campo minado. Váários pneus de tamanhos diferentes são dispostos para que você passe pulando por eles. Me deram a dica logo no início: vá devagar porque MUITA gente torce o pé. Fiz isso e foi tranquilo. #ficadica

Campo Minado (Foto por Adam Tavares)
Em todas as fotos que eu tinha visto da corrida, todo mundo estava encharcado, sujo de lama, e eu achei estranho estar seca nos primeiros momentos. Até que chegou a hora da água no obstáculo "A Fuga". Atravessamos um laguinho de costas com o apoio de uma grade em cima (o que dava uma sensação de estar preso PÉSSIMA!). Maaas, passou, ufa.

Campo Minado (Foto da Página da Bravus Race no Facebook)
Eis que apareceu o tão temido King Kong Plus, que exige uma força no braço desumana. Caí na água logo na segunda barrinha e tive que pagar minha primeira "prenda" por não conseguir passar pelo obstáculo: 10 burpees (você cai no chão, faz uma flexão, levanta, pula pro alto, cai no chão de novo, flexão de novo... isso MATA!).

King Kong Plus (Foto por Adam Tavares)
Depois, e tão difícil quanto: o Monte Bravus. Ele nada mais é do que uma rampa, mais lisa que seu amigo que está te devendo 24 reais desde 2006, em que você tem que subir com todo impulso que tiver e se jogar pra que alguém te pegue lá de cima. Tentei a primeira vez, cheguei perto, quase alcancei a mão do cara... fail. Escorregar foi divertido. Tentei a segunda, cheguei um pouco mais perto... FAIL. E já escorreguei com raiva.
Na hora me veio à cabeça a pintura do Michelangelo em que Deus quaaaase encosta o dedo em Adão para então criar a humanidade. Os caras me esperando em cima da plataforma: Deus. Eu: Adão.

Tava difícil fazer esses dedinhos se encontrarem, viu?
Tentei a terceira vez e RÁ, alguém conseguiu me pegou. Aí rola todo um trabalho em equipe para te puxarem pra cima. Um pega um braço, um pega o outro, um tenta puxar o tronco, se precisar mais um puxa a perna e depois de MUITO esforço em conjunto eu consegui ficar em pé na plataforma. Ainda escutei um dos caras que me ajudou falando: "Nossa, essa era pesadinha hein?" Moço, desculpa, meus ossos são pesados e eu acabei de voltar de férias. =(

Monte Bravus (Foto por Adam Tavares)
O próximo obstáculo tenso foi o Por um Fio: um muro de 6m que a gente tinha que subir com a ajuda de uma corda com nós. Não achei que fosse conseguir, foi TENSO, deu mais medo pra descer do que pra subir, mas... DONE!

Por um Fio (Foto por Adam Tavares)
Brinquei que tinha pouca lama e nunca me arrependi tanto na vida. O próximo obstáculo foi o Vietnã: me arrastar na lama embaixo de um arame enfarpado. Enganchei o cabelo, engachei a roupa e graças a Deus minha vacina antitetânica tá em dia.
MAIS LAMA no obstáculo seguinte, a Serra Pelada, em que você pode muito bem simular o banho de lama do Louis Litt de Suits. Era impossível subir os montes sem a ajuda de alguém, e depois, quando você caía na lama para subir a próxima "serra", a sensação era de que seus pés pesavam 40kg cada um. Tirar o pé da lama, no sentido literal e não literal da expressão, É MUITO DIFÍCIL. É desesperador porque quando você consegue tirar um pé, afunda o outro. Acho que esse foi o obstáculo mais sofrido, eu e as meninas devemos ter passado uma meia hora lá entre uma serrinha e outra.

Serra Pelada (Foto da Página da Bravus no Facebook)
Mais uma missão impossível: o Treinamento Ninja. Deveríamos tocar um sino, subindo uma corda com nós, a sei lá quantos metros de altura. Eu sabia que ia ser difícil, mas tentei. A única coisa que consegui foi me apoiar no primeiro nó e ficar sentada lá, o que remeteu à cena linda do clipe de Wrecking Ball da Miley Cyrus. Nada além disso.

I came in like a wreckiiiing baaallll

Treinamento Ninja e o que eu deveria ter feito (Foto da página do Facebook da Bravus)
Surgiu uma parte do percurso em que até rolou dar uma corridinha e depois da curva, mais muros. A cena mais engraçada da prova foi na hora em que um cara correndo ao nosso lado fez a curva, viu os muros, parou de correr e gritou: "PUTA QUE PARIU, MAIS MURO NÃO!". Ele externalizou o que todo mundo pensou.

Muros, muros e mais muros (Foto por Adam Tavares)
Tivemos que subir uma rede de uns 5 metros. E descer. Subestimei um obstáculo com fios desencapados e o chão molhado quando fiquei sabendo dele, mas levei choque SIM. Merda. E por último, em um grupo de 3 meninas (homens levantavam sozinhos) tivemos que levantar 40kg de pedra com uma corda.
A corrida, em que praticamente não corri, chegou ao fim e o lema dos 3 Mosqueteiros nunca fez tanto sentido. Um por todos e todos por um. Em nenhum momento da minha vida fui tão ajudada e ajudei pessoas desconhecidas a passar por tantos obstáculos TENSOS, superar medos e motivar a não desistir. Foi incrível ver o quanto todo mundo se doou pra fazer aquilo acontecer e ninguém se preocupou em chegar primeiro, mas sim em chegar com todo mundo, não deixar ninguém pra trás. Antes da prova começar, o "animador" do aquecimento disse que sairíamos da corrida "cheios de lama, mas de alma lavada" e foi exatamente assim. Agradeço imensamente às meninas que me acompanharam nessa doidera do começo ao fim e a todo mundo que, mesmo sem me conhecer, me ajudou. Valeuuuu people!!!!! =DDDD

A equipe na chegada! =)

Finisheeers com as merecidas medalhas
Todos os hematomas que ficaram, a dor muscular que mal me deixa escovar os dentes sem reclamar, valeram a pena demais. Só tenho uma sugestão à organização: podia rolar um patrocínio da Omo, Ariel ou outro sabão em pó e incluir um no kit né? Um convênio com uma lavanderia também serve. Se sujar faz bem, ok... mas e pra limpar as roupas agora, como faz?
Ps: Se você quiser ter uma noção maior ainda do que são os obstáculos da Bravus, compartilho esse vídeo com os melhores momentos da corrida.
Que venha a próxima!
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