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Corrida e Caminhada pela Inclusão do Instituto Olga Kos

  • Vanessa Freitas
  • 24 de mar. de 2016
  • 7 min de leitura

O post de hoje é sobre a corrida que aconteceu no último domingo, mas começou há muitos anos atrás, e que eu corri, mas estou longe de ser a protagonista. Uma das provas mais emocionantes que já participei, não pela distância, não foi meu melhor tempo, não foi um percurso novo... Senta que lá vem história :) (se tiver com pressa pra ler, pode voltar depois)


Em 1998, nasceu a Beatriz de Freitas Faria, a irmã caçula da Vanessa (eu!), que na época tinha 8 anos, e do Bruno, com 4. Somos a escadinha dos Fritas Farinha. Lembro quando minhã mãe chegou em casa com aquela bonequinha e disse que ela era frágil, um pouco menor que os outros bebês (nasceu prematura) e teria um desenvolvimento mais lento por conta de um cromossomo a mais na posição 21. Não tinha ideia do que diabos era esse tal de cromossomo, nem o que ele fazia com as pessoas. Mas eu também queria ter, afinal a Bia nasceu com olhos verdes iguais aos do meu pai e o cabelo liiiiso, clarinho. Poxa, e eu com os olhos castanhos e o cabelo ruim, tão sem graça.

À medida que os anos foram passando, fui entendendo, convivendo e aprendendo com a minha irmã que nasceu com Síndrome de Down. A caçula da família deveria aprender conosco mas foi totalmente o contrário, é uma lição de vida atrás da outra. Desde que fomos abençoados pela presença da menina mais simpática que eu já conheci até hoje (juro que não tô puxando sardinha) em casa, todos aprendemos a ver o mundo de uma maneira diferente. Algumas pessoas consideram portadores de Síndrome de Down pessoas "diferentes", e eles realmente são. São mais alegres, mais amáveis, mais espontâneos, mais carinhosos, mais teimosos (tem isso também! rs), mais transparentes, mais malandros (ela é muito safada hahaha) e tantas outras coisas... Diferentes de nós que muitas vezes somos frios, não queremos nos apegar, não demonstramos o que sentimos ou temos vergonha de fazer ou falar o que queremos, com medo do julgamento da sociedade.

Minha irmã dança como se ninguém estivesse olhando no meio de 30 pessoas. Cumprimenta desconhecidos como se fossem amigos de anos com um abraço e chamando-os de "migo". Vai à escola estudar, faz dever de casa, faz natação duas vezes por semana, vai à missa com meus pais e tem encontros periódicos com seus amigos de fora do colégio, portadores de síndrome e não. Sabe mexer no tablet, assiste Carrosel e Chiquititas (eu sou a Vivi e ela é a Tati), adora roubar meu celular pra mandar mensagens no Whatsapp (apesar de serem bem confusas, rs), reconhece os meus amigos que ela viu só uma vez há 5 anos atrás e SEMPRE, sempre, se lembra das coisas boas de cada um deles. Seja uma vez que o penteado no cabelo de uma delas estava bonito, uma roupa, uma música tocada no violão. É isso que ela guarda das pessoas e foi isso que ela me ensinou a guardar também.


Pode parecer que perdi o foco da corrida, mas não perdi não. O foco da Corrida e Caminhada pela Inclusão do Instituto Olga Kos sempre foi ela. A Bia e todas as outras pessoas que possuem esse cromossomozinho a mais na casa 21, ou que possuem alguma deficiência intelectual. Nós corredores fomos meros coadjuvantes. O Instituto atende mais de 2700 pessoas com alguma deficiência intelectual, promovendo projetos artísticos e esportivos, e pelo segundo ano consecutivo realiza a corrida pela inclusão, próximo ao dia 21/03, em que é comemorado o Dia Internacional da Síndrome de Down.

Fiquei triste por não ter conseguido participar da edição do ano passado então neste ano, assim que abriram as inscrições, já fiz correndo (tum dum tss). Como foi APENAS R$ 25,00 (!!!!!) fiz a minha e resolvi presentear meu pai, com quem eu não corria uma prova desde que ele sofreu um acidente em 2014, e meu irmão, que nunca tinha corrido uma prova de rua, com a inscrição para os 10km. Nós 3 representamos, nestes 10km de corrida, a caminhada que nossa família e tantas outras percorrem em busca da inclusão dos nossos queridos. A Bia e minha mãe, claro, foram assistir e torcer por nós.

A sinergia ou o destino conspirando para que tudo desse certo nessa prova foram tão grandes que fui transportada para o lugar da retirada do kit sem querer. Trabalho em Barueri, precisei sair mais cedo do escritório para resolver uma pendência em São Paulo na sexta-feira antes da prova, e por coincidência o primeiro ônibus que passou e levava à um metrô foi o metrô Armênia. Entrei, no meio do caminho chequei onde era a retirada dos kits para me programar para sábado e eis que me deparo com... ARMÊNIA. Foi lindo! Retirei os kits, que continham uma camiseta (qualidade ótima!), um squeeze, o número de peito, chip, um snack e sacolinha, na sexta-feira à tarde em menos de 15 minutos. Um show de organização.

O Kit! Dá pra acreditar que a inscrição foi R$ 25,00?


Minha família chegou em São Paulo no sábado à noite, comemos nossa tradicional pizza de todo sábado com uma cervejinha para relaxar e dormimos cedo. A adrenalina da Bia estava a mil, ela sempre se empolga MUITO quando vamos correr. Para ela, toda corrida é maratona e um mês antes ela já simula como será sua torcida pra gente "Van, maratona!!!", "Buno, maratona!!!", "Papai, maratona!!!". Não tem incentivo maior.

Acordamos e chegamos por volta das 7h no Pacaembu. Coooomo eu estava com saudade de uma prova de rua (foi minha primeira do ano) e nem sabia. A emoção de ter meu pai ao meu lado depois de tanto tempo, e do meu irmão pela primeira vez, não cabiam em mim. A Bia queria correr com a gente, mas explicamos pra ela que a distância era muito longa e encontraríamos com ela na chegada. Antes da largada, no meio de toda essa bagunça política que o Brasil está vivendo, a organização colocou pra tocar o Hino Nacional e nós cantamos (a Bia inclusive!!! que orgulho!). Demos tchau pra Bia e a minha mãe e largamos juntos, uma largada tranquila e nada tumultuada, diferente das últimas provas que participei.

Família antes da prova :DD

Corremos os três juntos até por volta dos 2km, mas meu pai optou por andar quando sentiu algumas dores na panturrilha. Ele autorizou que eu e o Bru continuássemos correndo. Tenho uma regra de etiqueta (Glória Kalil das corridas! haha) de que se EU convido alguém pra correr, vou correr no ritmo da pessoa, mas já que meu pai liberou, fui no ritmo do meu irmão. Eu ouvindo música e ele não (roubei o fone dele! coisa de irmão né?), fui cantando todas as músicas que tocavam. Não foi uma boa ideia na verdade. Ele não reconhecia quase nenhuma delas porque eu canto bem demais (só que não). Estava muito preocupada se o ritmo estava bom ou não para ele e de 5 em 5 minutos eu perguntava: "Bru, e aí? Tá tranquilo? Tá favorável?" e emendava com o funk. Acho que já cantei essa música mais do que o próprio MC Bin Laden.


Um dos momentos mais engraçados aconteceu quando cruzamos os 5~6km e surgiu a descida da volta do Minhocão...


Eu: Aí Bru, agora é descida, só soltar o freio e vai

Bru: Nossa, quer ouvir uma cantada ruim?

Eu: Fala

Bru: Todas essas curvas e eu sem freio nenhum


Eu e o pedreiro, quer dizer, meu irmão


É galera, dá pra perceber que a destreza pra contar piadas ruins em momentos inusitados é de família, né? Quando estávamos a uns 200 metros da chegada, avistamos a Bia e a minha mãe na grade, gritando "Van, Bruno, Bruno, Van", e a Bia mais feliz que nós. Completamos a prova em 1h e 10 minutos, tempo ÓTIMO pra quem corre uma prova de 10km pela primeira vez (já dei parabéns, né Bru). Fomos direto pegar a medalha, linda por sinal, e nos encontramos com a minha mãe e a Bia na torcida para esperar meu pai.


Quando a torcida da família estava completa, minha mãe contou a pérola da Beatriz. Assim que passamos por elas...


Minha mãe: Bia, vamos lá encontrar o Bru e a Van pegando a medalha...

Bia: Não, falta o papai!!!

Minha mãe: Mas depois a gente encontra com ele...

Bia: Não, ele tá chegando! Ele tá de BRANCO!!

Quem tava de branco nessa prova? Só TODO MUNDO!! Hahaha!


Pouca gente de branco né? Só umas 10.000 pessoas!


Tudo bem, poucos minutos depois, meu pai, que estava de branco, também completou os 10km e a família se reuniu.

Os corredores e a nossa razão para correr ;)


Aguardamos um pouco os ânimos se acalmarem e depois que a linha de chegada esvaziou, cumpri o prometido com a Bia e nós cruzamos a linha de chegada juntas (pena não ter nenhuma foto desse momento). E caiu uma lágrima aqui lembrando disso. Seguimos do Pacaembu para o Ibirapuera onde aconteceu a CaminhaDown, outro evento da Semana da Diversidade, promovido pela ONG Movimentarte. Não participamos da caminhada (haja pique né?) mas vimos algumas apresentações de capoeira e dança e foi super legal.


Como se já não estivesse bom de emoções pra uma corrida só (#guentacoração) compartilhei a foto do fim do post usando as hashtags indicadas pelo Instituto Olga Kos no Instagram e ontem ganhei um sorteio de uma cesta com diversos produtos da Montevérgine!!!! Claro que eu vou levar pra Bia no feriado e depois compartilho com vocês a felicidade da menina (ela nem gosta de doces... hahaha).


Instituto Olga Kos, MUITO OBRIGADA pelo presente e principalmente por ter proporcionado momentos tão emocionantes. O trabalho de vocês é lindo e merece ser divulgado para os quatro cantos do mundo.


Pra finalizar, fecho com o texto que meu irmão escreveu sobre a corrida no Facebook e sintetiza o que eu tentei transmitir pra vocês com essa postagem:


"Correr 10km ao lado dela que sempre me incentivou, Vanessa Freitas, e ele que sempre foi meu exemplo, Rafael Faria, em prol de ações como essa do Instituto Olga Kos, afim de incentivar a inclusão cultural e também social, pareceu ser 10m, uma vez que anjos como a Bia nos mostram a cada dia que sacrifícios como esse podem não chegar aos pés de tudo que eles já passaram em suas vidas e ainda assim estampam esse sorriso de orelha a orelha pelas coisas mais simples. Queria esperar até amanhã, 21 de março, em que o mundo todo comemora o Dia da Síndrome de Down para fazer essa singela homenagem a todos eles, mas todos eles merecem muito mais que um só dia, uma só corrida, merecem todo o reconhecimento por tudo que podem acrescentar na sociedade! Te amo Biatrizz :DD"


Essas medalhas são suas, Bia!

Amor define.

PS: perdi a conta de quantas vezes chorei escrevendo esse texto =,)


Para saber mais:



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